A velha gameleira não resistiu ao tempo.

A velha gameleira não resistiu ao tempo.
Poeta: Agenor Otávio de Oliveira


I
Rua da gameleira
Assim o povo chamava
Através de uma árvore
Que a mais de cem anos foi plantada
Ela cresceu com o tempo
E muitos ao lado dela moravam.

II
Debaixo do seu sombreiro
Existiu uma feira e troca de cavalos
Os animais eram vendidos
As vezes também trocados
Daciano fabricava os arreios
No mesmo local eram comercializados
Ao lado tinha uma bodega
Uma cachaça custava um cruzado
Zé Paraíba ali entrava
E só saia embriagado.

III
Encostado ao velho tronco
Muitos romances aconteceram
Alguns não prosperaram
De outros muitas crianças nasceram
Foi um ponto de encontros
De casados e solteiros
Sentindo o vento suave
Embaixo do seu sombreiro

IV
Certa vez o prefeito Alceu
Mandou a gameleira podar
Os vizinhos se revoltaram
E ficou nesse pra lá e pra cá
Porém houve outros problemas
Quando quiseram a feira mudar
V
São tantas histórias
Que vão ficar na memória
Dos que amanhã irão contar
Lembro- me de Cloves Almeida
Que Deus o tenha em um bom lugar
Sei que ele sentiu essa perda
Da nossa gameleira secular

VI
No dia 21 de Abril de 2003
Quando começava a anoitecer
Tombou sobre o nosso solo
Um pedacinho de você
A gameleira tão conhecida
Dos romances e das entrigas
E do que não podemos dizer

VII
Da nossa histórica gameleira
Registrei seu tombamento
Seu passado tem história
Dessa perca eu lamento
Os meus olhos lacrimejaram
Expressando meu sentimento

VIII
Vi os galhos sobre as pedras
As folhas comecei acariciar
Senti elas morrendo
Já começando amarelar
Dei o meu adeus
E comecei a chorar
Nada resistirá ao tempo
Só a chuva e o vento
Que fez a gameleira tombar

IX
Da inesquecível árvore
Restou apenas o tronco
Com um galho em cima
Para morrer no mesmo canto
Levando toda história
Do presente e das memórias
E dos que admiravam tanto


X
A perca desse patrimônio
Fez a rainha do vale chorar
As duas nasceram juntas
Nesse mesmo lugar
Uma tombou com o tempo
A outra jamais tombará

XI
Se ela podesse falar
Teria muito o que dizer
Maltratada como foi
Ao chegar apodrecer
Nem se quer era podada
Os Itabaianenses dela se orgulhavam
Mesmo assim a deixaram morrer

XII
Fiz a minha homenagem
Ao Pau Grosso que tombou
A lembrança permanece
Até a que o vento levou
Ainda ficaram as raízes
Com as marcas das cicatrizes
Para quem dela não cuidou

XIII
Encerro este poema
Com as lágrimas no coração
Da gameleira ficaram as saudades
Mas outras nascerão
Foi Deus quem criou a natureza
E vivemos por uma razão
Na palavra tudo passará
Só as de Jesus não passarão


Poeta Agenor Otávio de Oliveira.